O quão representativo do momento politico atual pode ser um grupo de manifestação contrário a fala de uma filósofa em um seminário intitulado “Os fins da democracia” ? A filósofa norte-americana Judith Butler abriu no Sesc Pompeia, em São Paulo, o seminário Os Fins da Democracia, na terça-feira, 7, mesmo após diversas tentativas por grupos conservadores de impedir a realização do seminário.
Não é a primeira vez de Butler no Brasil sua primeira vinda ao País, em 2015, passou quase despercebida. Ela é considerada uma das mais importantes filosofas dos EUA, seu legado é vasto e abrangente, abordando temas como feminismo, estudos de gênero, democracia, teoria queer, e a questão Israel-Palestina. Mas o foco da ira dos conservadores são ideias sobre a questão de gênero, expostas no livro Problemas de gênero – Feminismo e subversão da identidade, publicado em 1990. Mais de 350 mil pessoas assinaram uma petição online pedindo a proibição do seminário no Sesc Pompeia.
“O brasileiro não aceita a depravação da nossa cultura”, se opunha um manifestante. Outros carregavam cartazes contra o ensino da ideologia de gênero nas escolas. Num deles, lia-se: “Em defesa das princesas do Brasil”. “Ela é personificação da ideologia de gênero, uma falsa acadêmica que defende uma falsa ideologia”, afirmou a hoteleira Celene de Carvalho, dos grupos Ativistas Independentes e São Paulo Tem Jeito, cujo carro serviu de apoio para a caixa de som do protesto, que mesclava também representantes dos grupos Juntos Pelo Brasil, Direita SP e Carecas do ABC, organização de skinheads que se intitula “nacionalista”, e defensores da intervenção militar. Entre os gritos de “fora, Butler” e “I love you, Trump”, bradavam palavras de apoio ao deputado federal Jair Bolsonaro.
Protestas queimaram uma boneca de uma bruxa que representava a filósofa, – ato simbólico que lembra a idade média – quando queimava-se mulheres acusadas de serem bruxas , ao som da oração do Pai Nosso. “Queimem a bruxa!”, gritavam. “O Brasil é um país conservador, contra a ideologia de gênero. Fora Butler!”, discursavam. “Homem é homem, mulher é mulher, e aqui no Brasil você não faz o que quer!”, cantavam. “Você não foi aceita nem no seu país e quer ser aceita no Brasil? Fora Butler!”, bradavam.
“É por nos ajudar a refletir sobre a precariedade que nos une que Butler é tão importante para nós. É por nos ajudar a pensar na política de aliança e em novas possibilidades de refazer este mundo tão injusto que precisamos de defender que fale onde queira e onde será seguramente muito precisa”, diz João Manuel de Oliveira.
Pode em um país democrático uma filósofa falar?